Crianças em casa. E agora?

  • Terça, 24 Março 2020 11:01

por Escola da Vila
Autora: Dayane Moura Monteiro e Natalia da Cruz, professoras da Educação Infantil

A pandemia do novo coronavírus nos colocou frente a uma situação inusitada: o isolamento social. O contato, algo que prezamos tanto em nossas relações com as crianças, teve que ser interrompido diante de um cenário que busca minimizar os impactos desse vírus em nossa sociedade. Tivemos que encontrar uma nova maneira de comunicação, que preserve o vínculo com nossos pequenos, respeitando principalmente a infância e as formas genuínas das crianças se comunicarem e se relacionarem.

As crianças são inteiras em suas vivências no mundo e precisamos pensar em como possibilitar suas explorações nesse novo contexto, com limite de espaço e de interação. Na escola prezamos pela construção de uma rotina que garanta estabilidade no dia a dia delas, propiciando autonomia e segurança emocional para que a investigação e a construção do conhecimento aconteçam de maneira significativa. Diante disso, consideramos também importante preservá-la em outros contextos da vida de nossos pequenos, como a sua própria casa.

Começamos desde a semana passada a enviar propostas de atividades para serem feitas em família, mantendo valores tão caros para nosso projeto pedagógico, como o brincar, a literatura, o fazer artístico… Para além dessas propostas, esse momento se torna oportuno para que as crianças participem de outras tarefas em casa, tomando para si a responsabilidade pelo ambiente no qual fazem parte, o que também acontece quando estão na escola.

Perceber-se útil nas atividades rotineiras, que fazem a casa funcionar, dá para as crianças um lugar de pertencimento e de confiança que mostram o que significa ser um membro da família, que acreditamos em seu potencial e que apostamos na autonomia delas diante dos desafios que possam surgir.

Mas em que podemos envolvê-los? Que tal iniciar essa conversa convidando-as a pensarem como podem ajudar em casa? Juntos, a partir das ideias que surgirem, vocês podem trilhar um caminho que será percorrido ao longo desse período. Para inspirá-los, criamos uma lista de propostas com base no que as crianças já são convocadas a fazer na escola:

  • organizar seu material: armário, cama, brinquedos e materiais que serão usados para as propostas da escola;
  • ajudar nas tarefas domésticas: lavar louça, separar a roupa suja, tirar o lixo da casa;
  • aprender coisas novas: aprender uma nova receita, costurar aquela meia furada, bordar, consertar um brinquedo, plantar uma nova mudinha (pode ser de feijão, de alecrim, cebolinha);
  • cuidar dos membros da casa e da vida: alimentar os bichos de estimação, regar as plantas, dar banho nos cachorros nesses dias quentes, preparar o café da manhã dos irmãos ou da mãe e do pai, mandar mensagens de vídeo para os avós, tios e familiares que estão distantes, fazer desenhos para os vizinhos do prédio, manter o contato com os amigos;
  • construir um diário de “bordo”: nossa casa agora é nossa “nave”! Como podemos registrar este momento? Além do que vamos sugerir como registro frequente para as propostas vindas da Escola, escolha um jeito de registrar o dia a dia de vocês, em casa – diários escritos (com trechos ditados pelas crianças, fotos e legendas ou um aplicativo que faça este registro virtualmente);     
  • organizar um mural com símbolos: que representem as atividades sugeridas e os horários indicados para fazê-las com ou sem apoio de um adulto. A regularidade desta organização garantirá que as próprias crianças comecem a se dar conta de que a rotina pode acontecer sem que alguém precise nos lembrar de tudo.

Tudo o que estamos vivendo é novo, e com a novidade surgem incertezas. Para amenizar esse novo cenário, vamos nos cercar de momentos significativos ao lado de nossas famílias, mesmo que a comunicação nessa fase precise ser virtual. Torne esse período de maior proximidade com as crianças o mais verdadeiro possível, certamente vocês criarão memórias que vão trazer mais sentido ao valor de se viver em comunidade, ser solidário e respeitar o bem comum. Daqui, torcemos para que as boas notícias cheguem logo e possamos nos fortalecer nos abraços e afagos, que são tão valiosos para todos nós.