Para Maria Inês Fini, presidente do Inep, Brasil precisa superar a rígida divisão curricular

(Fotos: Gustavo Morita)

“O Brasil está infinitamente atrasado no seu conceito de currículo. Países bem-sucedidos nos índices de educação aboliram a rígida divisão disciplinar”. A declaração foi feita por Maria Inês Fini, presidente do Inep, órgão do MEC responsável pela aplicação do exame, durante o Painel Abepar – Avaliação e Novo Modelo de Ensino Médio, realizado no dia 21 de outubro no auditório do Colégio Santa Cruz, em São Paulo.

O evento, que contou ainda com a presença do secretário-adjunto da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, Francisco José Carbonari, e de Fernando Leme do Prado, especialista em educação profissional, foi organizado pela Associação Brasileira de Escolas Particulares (Abepar) e atraiu cerca de 150 participantes entre mantenedores, diretores, coordenadores e professores de escolas particulares.

O evento trouxe a debate a reformulação do Ensino Médio, proposta pela Medida Provisória 476/2016, e os processos de avaliação de ensino – principalmente a atual estrutura do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e as expectativas de mudanças da prova.

Novo modelo de Ensino Médio

Sobre a MP, Francisco Carbonari (foto à esquerda)  vê o debate como algo positivo, mas alertou quanto à polarização das discussões.

“A polarização existente no Brasil interfere na qualidade dessas discussões”, disse o secretário-adjunto. “Não se trata de ser a favor ou contra a MP. A necessidade e a importância dessas mudanças deveriam abrir caminho para o debate público. E diversos estudos sobre a qualidade do ensino médio no Brasil hoje apontam para uma mesma direção: temos que mudar”.

Para o secretário, o “engessamento” do atual currículo é um dos fatores que levam aos baixos resultados no campo pedagógico. “O ensino médio não pode mais ser o mesmo para todas as escolas e todos os alunos”, declarou.

“Há estudantes que projetam ingressar em uma universidade, mas não podemos ignorar, por exemplo, a vontade dos jovens que querem fazer um curso profissionalizante, o que também é uma necessidade do mercado”, afirmou o secretário, citando proposta da Medida Provisória que permite o oferecimento de curso profissionalizante no currículo de ensino médio.

Questionada pela Abepar sobre a Medida Provisória, Maria Inês vê a proposta de mudança com otimismo. “A escola pública vai ter a oportunidade de se reorganizar com base muito mais na vocação dos alunos ou nas oportunidades regionais do que seguindo um currículo engessado, padronizado para todos”, opinou a educadora. “Quanto ao sistema privado, espero que as escolas particulares usem e abusem dos recursos que têm para oferecer uma educação de qualidade”.

 
Reformulação do Enem

Assim como o ensino médio, o Enem também deve mudar. Em sua apresentação, a educadora reconheceu a importância dos resultados do Enem, utilizados hoje como principal método de ingresso às universidades públicas pelo Sisu, na oferta de bolsas de estudo pelo ProUni e também no financiamento universitário pelo Fies. (Foto: Maria Inês Fini, presidente do Inep)

Para a educadora, no entanto, a megaoperação que envolve a aplicação do Enem é “impossível de se manter”. 

“O Enem hoje custa cerca de R$ 800 milhões para a Educação e uma grande mobilização das forças do país para garantir a tranquilidade dos estudantes que fazem a prova. Toda essa operação está sendo revista”, declarou a presidente do Inep. “Queremos uma prova mais barata, que seja realizada em um dia, igualmente eficiente e que não tire dos candidatos os benefícios e as oportunidades que hoje lhe trazem”.

A presidente do Inep também se colocou à disposição para voltar a conversar com os educadores sobre a nova prova quando ela for divulgada. “Firmo o meu compromisso em voltar para explicar a todos como será a nova prova com detalhes, e prometo que vou lutar incansavelmente para abolir o ranking de escolas do atual Enem, que é injusto e inadequado”, garantiu a educadora sob aplausos do público. Outra promessa da presidente do Inep foi agilizar a entrega dos microdados do Enem, que contém informações sobre o desempenho dos alunos. Atualmente, a demora entre a aplicação das provas e a entrega dos resultados às escolas é de um ano.

“O que as escolas podem esperar do ‘novo Enem’ é: nenhum tipo de agressividade, nada de grandes transformações, nenhum conteúdo diferente do que se vem ensinando aos alunos, mas uma maneira diferenciada de avaliar, com extremo respeito à estrutura de pensamento dos alunos e com tudo aquilo que vem sendo praticado nas melhores escolas”, disse Maria Inês, que garantiu que as mudanças da prova “estão totalmente de acordo com o que propõe a MP”. A expectativa é que o novo modelo de Enem seja apresentado em 2017.

Avaliação do Painel

Mauro Aguiar (foto), presidente da Abepar e diretor do Colégio Bandeirantes, em São Paulo, avaliou o evento positivamente. “Acho fundamental um evento como esse, em que educadores discutem com as autoridades, mostrando a realidade do chão da sala de aula. Isso é muito importante. Precisamos de muitos eventos como esse”, disse.

Mesmo no aguardo da definição da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que vai orientar os conteúdos a serem ensinados no Ensino Médio, Arthur Fonseca, diretor da Abepar e do Colégio Uirapuru, de Sorocaba, acredita que esse seja “o momento de as escolas reunirem suas equipes para começar a repensar esse modelo de ensino médio, que não tem uma vertente só”.

Quanto ao Painel, o diretor avalia que o evento cumpriu sua tarefa. “O evento trouxe a reflexão dessa proposta de mudança do ensino médio, a partir da MP, pensando num quadro não só das nossas escolas, mas da educação do Brasil”, disse. “As falas do Carbonari e da Maria Inês suscitaram bem essa discussão”.

 

 

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