por Escola da Vila
Escolher uma escola para nossas crianças e adolescentes é uma tarefa monumental. As variáveis são muitas e as opções, geralmente, limitadas pela geografia e pela viabilidade financeira. Mas não é só isso o que pesa na decisão: a filosofia de ensino, a visão de educação, a própria visão de mundo da instituição e da comunidade escolar também precisam coincidir, ainda que parcialmente, com aquilo que a família acredita e deseja.
Mas… e depois da escolha? Qual é, ou qual pode ser, a relação entre família e escola? Nós, mães, pais e responsáveis, podemos olhar para o espaço escolar como um espaço de construção conjunta, de participação intencional em projetos coletivos que tragam contribuições para a vida na escola, para seus e suas estudantes, equipe e famílias na orquestração de espaços de produção de saberes compartilhados.
Dentro da comunidade escolar da Vila há, sim, muito espaço para a participação das famílias. Vamos conhecer um pouco mais de um deles: o NAA, Núcleo de Ação Antirracista de famílias da Escola da Vila, que existe há pouco mais de dois anos. Nesse tempo, um espaço de ação que não existia foi construído junto com a escola: desde a primeira tentativa, tivemos a possibilidade de dialogar com a direção, que nos deu abertura, nos ouviu e, acima de tudo, nos levou a sério.
A Vila é uma escola com uma história de muita qualidade e muito pioneirismo. Mesmo com tanta bagagem e experiência, abraçou a oportunidade de aprender junto conosco na urgência de ampliar a pauta antirracista dentro da escola, além de divulgar para toda a comunidade as palestras que o NAA organiza, incentivando a participação de estudantes e equipes. Tudo isto legitima a existência e as ações do NAA, o que nos consolida como coletivo e nos aproxima da comunidade escolar como um todo.
Talvez ainda mais significativa seja a cooperação orgânica que se deu entre o Núcleo e a direção da escola na forma de parcerias. Em 2021, o NAA considerava de extrema relevância e urgência o desenho e a aplicação de um censo de autodeclaração racial. A escola, no entanto, estava passando por movimentos intensos, com mudanças de unidades, e não tinha como levar a cabo todo o processo naquele ano. Então, o NAA tomou a frente, desenvolveu o questionário e a campanha de sensibilização, em parceria com a Vila, que fez a divulgação e a aplicação; depois, o NAA se responsabilizou pela organização e pelo compartilhamento dos resultados.
Outra parceria forte surgiu através da Liga Interescolas por Equidade Racial, da qual o NAA é membro fundador, que trouxe a ONG Ação Educativa para orientar as diferentes escolas e seus coletivos no processo de diagnóstico das relações raciais. Esse projeto foi imenso! A Vila montou um Grupo Guardião com funcionárias e funcionários de diferentes setores, mães do NAA e estudantes do Ensino Médio para a preparação e a realização do evento. Novamente o NAA desenvolveu a campanha de sensibilização e mobilização, a Vila organizou a logística, o pessoal necessário para o suporte no dia, ofereceu o café da manhã, e o Grupo Guardião montou os espaços e coordenou os grupos de discussão. Foi uma colaboração produtiva e incrivelmente fácil de levar adiante.
Sabemos, porém, que nem sempre vamos concordar 100% em tudo. A escola pode não estar disposta a pôr em prática alguma proposta do NAA, ou o Núcleo pode discordar de alguma proposta da Vila. Mais do que aceitável, é algo inevitável (e, até, desejável). A escola é um grupo de profissionais que educam muitas centenas de crianças e jovens, o NAA é um grupo de mães e pais. A Vila olha a comunidade escolar de um ângulo, o NAA, de outro. E, sim, as famílias, de maneira organizada ou não, podem ter sugestões ou críticas à escola de seus filhos e suas filhas, porque essa é a maneira de mostrar que se importam, que se sentem partícipes e que desejam contribuir para uma escola cada vez melhor. O nosso olhar, como famílias, traz algo que a instituição pode não ter, assim como a visão da escola sobre a educação – ou mesmo sobre nossos filhos e nossas filhas – nos dá uma perspectiva que, até então, desconhecíamos. No caso do nosso grupo, que luta pela causa antirracista, as discordâncias são mais de ordem prática do que ideológica, mas, quando aparecem, dialogamos, negociamos, procuramos um caminho do meio e encontramos a forma de fazer a coisa acontecer.
É que conhecimento não se soma, se multiplica. Quanto mais pudermos, famílias e escola, interagir e cooperar, mais vamos fortalecer o projeto e a identidade da Escola da Vila. E, com isso, a educação de nossas crianças e adolescentes para a construção de um agora e um futuro melhor só tem a ganhar.
(Imagem: Jacob Ammentorp Lund/iStock.com.br)