A história do Colégio FECAP está intrinsicamente ligada ao surgimento da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado, instituição sem fins lucrativos que surgiu em 1902 e ainda hoje mantém o Colégio. Recém-associado à Abepar, o Colégio FECAP oferece ensino médio e profissionalizante para mais de 570 jovens. O diretor Marcelo Krokoscz falou à equipe de comunicação da Abepar sobre a importância do ensino técnico, os desafios pós-quarentena e compartilhou suas experiências na liderança do Colégio.
Localizado no bairro da Liberdade, em São Paulo (SP), o Colégio FECAP atende jovens de diversas regiões da cidade. Um de seus principais diferenciais é a oferta de 10 cursos técnicos focados diferentes áreas, que acontecem de forma concomitante ao curso regular de Ensino Médio. Segundo o diretor Marcelo Krokoscz, os cursos técnicos absorvem 80% dos alunos do Colégio. “Os outros 20% que não estão matriculados nos cursos técnicos seguem os itinerários formativos estabelecidos pela Reforma do Ensino Médio, que já implantamos no Colégio”, conta.
Além de cursos nas áreas de Administração, Comércio Exterior, Informática, Meio Ambiente, dentre vários outros, o Colégio fundou, em 2020, um curso sobre Inteligência Artificial, inédito no país. “Esse curso foi aprovado em caráter experimental pelo Conselho Estadual de Educação e está servindo de modelo para entrar no Catálogo Nacional de Cursos Técnicos”, afirma o diretor. A expectativa, de acordo com Krokoscz, é que o curso se torne referência para a criação de outros sobre o mesmo tema. Em 2022, o curso formará sua primeira turma, com 21 alunos.
‘Formação técnica não concorre com formação acadêmica’
Os investimentos em ensino profissionalizante são característica do Colégio desde sua fundação, há 120 anos. O diretor do Colégio FECAP lamenta, no entanto, que as matrículas em cursos profissionalizantes no país sejam ainda tão poucas.
Um estudo divulgado em 2021 pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) apontou que menos de 10% dos jovens brasileiros que se formaram no ensino médio em 2019 cursaram ensino técnico. Um dos aspectos que explicam este cenário é cultural, segundo o diretor.
“Anos atrás, acreditava-se que o ensino técnico era voltado para pessoas que não tinham capacidade para seguir carreira acadêmica”, esclarece. “Ou seja, criou-se a percepção de que o ensino técnico era para quem precisava ingressar logo no mercado de trabalho. Mas esse é um equívoco muito grande”.
O diretor ressalta que, do ponto de vista da experiência global, o ensino técnico em muitos países do hemisfério norte é reconhecido como um diferencial. “Em países como Alemanha, Suíça e Áustria, por exemplo, as taxas de proporção de alunos no ensino técnico é de 50% a 70%”, diz. “São alunos que têm uma formação técnica diferenciada, inclusive desde o ensino fundamental, como é o caso do ensino alemão”. A afirmação de Krokoscz é sustentada pelos dados divulgados no estudo da OCDE, que pode ser acessado aqui.
“Claro que existem carreiras em que ter cursado o ensino superior é fundamental, como as ligadas às áreas da saúde, direito e as engenharias. Mas não são formações concorrentes, pelo contrário. Os profissionais que contam com formação técnica e acadêmica têm uma bagagem profissional, prática e teórica, bastante completa”, afirma o diretor.
Em relação à experiência do Colégio no ensino profissionalizante, Krokoscz afirma que um em cada dois alunos egressos dos cursos técnicos oferecidos continua estudando na área em que se formou. “Não consideramos algo negativo quando o jovem não segue estudando na mesma área. Tão importante quanto saber o que se quer é saber o que não se quer”, afirma. “Isso traz uma maturidade importante e evita frustrações futuras”.
Desafios pós-quarentena
O distanciamento social imposto na fase mais crítica da pandemia de covid-19 resultou em mudanças de comportamento e de desenvolvimento em crianças e jovens por todo país. No Colégio FECAP, os desafios foram notados logo na volta às aulas presenciais e têm sido trabalhados de forma pontual e individualizada.
“Logo no retorno, notamos os alunos com bastante fragilidade do ponto de vista socioemocional”, lembra o diretor. “Estavam muito ansiosos, tristes, e sabemos que isso é fruto de uma fragilidade no desenvolvimento pessoal”.
Uma das soluções encontradas pela gestão foi implantar um programa de Mindfulness no Colégio, em que os alunos interessados receberam treinamento semanal de foco, concentração e compreensão de sentimentos junto a uma profissional especializada.
Outra medida adotada pelo Colégio foi a mudança no método de avaliação. A direção e professores discutiram soluções alternativas às tradicionais provas, que procuraram levar em conta as mudanças que vieram com a pandemia.
“Não fazia muito sentido voltar às provas tais como elas eram antes da pandemia depois que os alunos passaram dois anos estudando e fazendo provas com consulta”, afirmou o diretor. “Estamos também presenciando mudanças no mercado de trabalho. Muita gente ficou em home office, sem contar os relatos de empresas estrangeiras que têm reduzido a carga horária semanal em prol da saúde mental de seus funcionários. Na escola, a gente precisa ter a coragem de atualizar algumas coisas”.
Diante disso, foram instituídas avaliações em dupla. Os alunos puderam preparar um roteiro com os conteúdos do bimestre que poderiam consultar durante a avaliação. E a experiência foi muito bem-sucedida.
“Conversamos com alunos e professores sobre a experiência e o feedback foi surpreendente”, comemora. Ele conta que a preparação das avaliações foi mais trabalhosa, uma vez que a proposta era que os alunos fossem desafiados a elaborar melhor o raciocínio e a argumentação em suas respostas, mas a correção das avaliações foi menos desgastante para os professores.
Em relação aos alunos, os depoimentos apontam que não houve mal-estar no decorrer das semanas de avaliações. “As duplas estavam tranquilas, engajadas e concentradas. Eles se sentiram respeitados, especialmente nesse momento que costuma ser tão difícil”, afirma o diretor.
Experiências pedagógicas
Além de liderar a direção do Colégio FECAP desde 2014, Marcelo Krokoscz é professor de Metodologia Científica e de Raciocínio Lógico no Centro Universitário da FECAP, onde leciona desde 2008. Também foi coordenador da Comissão Própria de Avaliação (CPA) e do Programa de Iniciação Científica do Centro Universitário. No Colégio, também implantou um programa de iniciação científica que resultou em bons frutos. “Já tivemos pesquisas feitas por alunos do Colégio que saíram em revistas internacionais”, lembra.
As vivências em sala de aula rendem ao diretor uma experiência que tem sido valiosa frente à gestão do Colégio, segundo ele. “Ter o pé dentro da sala de aula contribui muito para nunca perder a dimensão da importância do aluno dentro da escola”, afirma. “Depois, o trabalho como gestor acaba sendo o reflexo dessa vivência”.
Participação na Abepar
“Seria muito pretensioso afirmar que o Colégio FECAP é o melhor de todos”, afirma o diretor. “Claro que não. Temos nossos desafios para superar também. Muita coisa para melhorar. Sabemos disso porque nosso aluno se queixa e precisamos ter a capacidade e a disposição de ouvi-lo”.
É por essa razão, segundo ele, que o Colégio FECAP viu na Abepar espaço para troca de vivências com outras instituições. “Sabemos que há experiências boas acontecendo em outras escolas. Práticas que são inspiradoras, bem-sucedidas. E as escolas da Abepar fazem essa troca, reúnem-se num espaço de partilha de experiências e de busca de orientações”.
“O que queríamos era exatamente isso: participar de um espaço de compartilhamento de experiências para otimizar nossa prática educacional”, diz ele. “E já conseguimos tirar proveito das reuniões em vários aspectos”.