O ChatGPT, um aplicativo de Inteligência Artificial, chegou no final de 2022 produzindo muito barulho e merecendo amplo espaço nas redes sociais e na mídia convencional, especialmente por resolver, em segundos, questões complexas, oferecer respostas críveis e bem escritas, e ajudar profissionais de diversas áreas em suas tarefas rotineiras. O impacto foi grande também nas escolas. Como ficariam as provas? E os trabalhos domésticos? Como diferenciar um trabalho feito pelo aluno de outro feito com a ajuda do ChatGPT?
Para analisar essas e outras questões envolvendo aplicativos de Inteligência Artificial, a Abepar convidou três especialistas para mais uma edição do projeto Diálogos Abepar, que se realizou no dia 19 de outubro de 2023. Foram eles Bruno Alvarez, vice-diretor de Inovações Pedagógicas do Colégio Pentágono, Emerson Bento Pereira, diretor de Tecnologia Educacional do Colégio Bandeirantes, e Verônica Cannatá, coordenadora de Tecnologia Educacional do Colégio Dante Alighieri. Francisco Carbonari, secretário executivo da Abepar, fez a coordenação desse encontro, apresentado pelo jornalista Helvio Falleiros.
A íntegra dessa gravação está aqui. Você pode acompanhar também os trechos mais importantes dessa conversa, apresentados a seguir.
Impacto inicial das plataformas de Inteligência Artificial nas escolas
Verônica Cannatá (Dante Alighieri): “O ChatGPT trouxe inquietações e dúvidas às escolas. Começamos a investigar e a entender o que ocorria, e o primeiro passo do Colégio foi procurar informações e formação. Nossa equipe de tecnologia buscou o que estava disponível naquele momento para se preparar para o que consideramos hoje um caminho irreversível. Para uma equipe de tecnologia, é mais simples abordar esse tema, pois já possuem habilidades tecnológicas. Também tivemos a missão de instruir nossos professores.
Com aproximadamente 400 professores, estávamos prontos para auxiliá-los a compreender este novo mundo e como aproveitá-lo ao máximo. Realizamos encontros de orientação com os professores e introduzimos um letramento em Inteligência Artificial no colégio. Treinamos e ensinamos os professores a utilizá-la. Também ministramos aulas para os alunos.
Possuímos um componente curricular chamado STEAM-S, com o “S” de Social, que o Dante adicionou. (O modelo STEAM integra conhecimentos de Artes, Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática). Tivemos aulas explicando como essa tecnologia funciona para os alunos do 6º ano do Fundamental à 3ª série do Ensino Médio. Nossa crença é que, quanto mais cedo compreendermos seu funcionamento, mais proveito tiraremos dela.”
Bruno Alvarez (Pentágono): “A minha percepção é semelhante à da Verônica, mas adicionaria um elemento. O ChatGPT foi um fenômeno no final de 2022, durante as férias escolares. Aprofundei-me no tema devido ao meu interesse. Esperava que, ao iniciar o ano letivo, fosse o tópico principal.
Fiquei surpreso ao perceber que muitos professores e gestores não estavam familiarizados com o ChatGPT. E, em relação aos alunos, a situação foi curiosa. Muitos conheciam a ferramenta, mas parecia haver uma reserva em admitir isso. Surgiu uma discussão sobre o potencial do ChatGPT para trapaças acadêmicas.
Iniciamos o ano com uma palestra sobre futurismo. Convidamos um especialista e começamos a divulgar informações sobre o tema. Elaborei newsletter semanal com conteúdos relevantes. A rapidez com que as informações se tornam obsoletas é impressionante. A Inteligência Artificial é um campo que evolui constantemente, e busco manter os professores atualizados. Realizamos, em nosso centro de desenvolvimento, um curso detalhado sobre ChatGPT e Inteligência Artificial como um todo.”
Emerson Bento Pereira (Bandeirantes): “No Bandeirantes, temos uma longa tradição de integrar tecnologia à educação. No início do ano, o ChatGPT ganhou destaque. Recordo-me da reação dos alunos. Em uma entrevista que concedi ao Valor Econômico, discuti a influência do ChatGPT na educação. É essencial compreender e integrar essa ferramenta, ao invés de simplesmente proibi-la. No Bandeirantes, os alunos já têm acesso à assistente virtual Alexa em sala de aula.
A questão é: como estruturamos a incorporação da Alexa? Como garantimos que os professores e alunos a utilizem de maneira eficaz e ética? Os alunos utilizam a Alexa, por exemplo, para tarefas como encontrar rimas. Trabalhamos para tornar a interação com máquinas parte do cotidiano escolar.
Em relação ao ChatGPT, abrimos um amplo debate na escola. Os professores se envolveram ativamente e já utilizam a ferramenta para elaborar questões e matrizes de correção. Reconheceram sua utilidade e começaram a adotá-la, também desmitificando possíveis desvantagens para os alunos.”
Verônica Cannatá (Dante Alighieri): “No Dante, abordamos a questão de forma cuidadosa. Não adotaríamos a tecnologia simplesmente por estar em voga. Respeitamos o ritmo de aprendizagem da instituição e dos professores.
Um desafio foi a adesão precoce dos alunos ao ChatGPT. Ao perceberem trabalhos entregues com características atípicas, os professores passaram a propor atividades que desafiassem o uso da ferramenta.
Considerando a questão legal, os termos de uso do ChatGPT estabelecem restrições de idade. Assim, buscamos outras maneiras de integrar a Inteligência Artificial à educação, além do ChatGPT. Por exemplo, utilizamos a IA do Canva para criação de imagens em uma campanha contra o cyberbullying.
Para os professores, a orientação foi clara: o ChatGPT pode ser uma ferramenta útil, mas deve-se ter cuidado com sua aplicação em avaliações. Importante garantir que o conteúdo produzido esteja alinhado com o ensino em sala de aula. Estamos constantemente buscando maneiras de aproveitar ao máximo essa poderosa tecnologia.”
Bruno Alvarez (Pentágono): “Há uma frase que se tornou bastante popular na mídia: “A inteligência artificial não vai substituir as pessoas, mas as pessoas que usam a inteligência artificial substituirão aquelas que não a utilizam.” Essa frase pode ser aplicada ao papel do professor.
Apesar de ser difícil prever o futuro, acredito que os professores que usam a tecnologia como aliada têm vantagens, incluindo a capacidade de se conectar de forma mais pessoal e individualizada com os alunos. Um grande desafio da escola é a heterogeneidade dos alunos, mas a inteligência artificial traz a oportunidade de lidar com essa diversidade. No entanto, é importante reconhecer que o processo de transformação é gradual e complexo.
O professor António Manuel Seixas Sampaio da Nóvoa, da Universidade de Lisboa, que tem discutido esse assunto com frequência, enfatiza a necessidade de adaptação e a busca por novas abordagens na educação. Ele fala que personalização é diferente de individualização. Personalização não significa que o aluno estará sozinho. Pelo contrário, a escola precisa ser um espaço de convivência da coletividade, em que um ser humano aprende com outro. O papel do professor ganha relevância ao estabelecer vínculos, mediar conflitos e atuar como um gestor socioemocional dos alunos, além de ser especialista em seu conteúdo.
No Pentágono, observamos duas marcas distintas: inovação e acolhimento. Os professores que acolhem e estabelecem vínculos com os alunos geralmente têm melhor desempenho. Esses professores usam a tecnologia a seu favor para liberar tempo das tarefas administrativas, permitindo que eles foquem na parte relacional em sala de aula.”
Emerson Bento Pereira (Bandeirantes): “O vínculo entre o professor e o aluno é crucial, e a tecnologia pode ajudar a fortalecê-lo ao fornecer informações e criar oportunidades para o professor se aproximar do aluno, demonstrando conhecimento das dificuldades e das habilidades do aluno. A mudança na educação não está na tecnologia em si, mas na forma como nos relacionamos. A tecnologia dá suporte a essas interações e, ao mesmo tempo, transforma a maneira como nos relacionamos.
A tecnologia também pode auxiliar na coleta de informações para que o professor compreenda e apoie a parte socioemocional dos alunos. A informação é essencial para a transformação da educação, que enfrenta desafios complexos, como questões socioemocionais, envolvimento das famílias, questões humanitárias e muito mais.”
Verônica Cannatá (Dante Alighieri): “É que a inteligência artificial pode ser usada para coletar esses dados, não é? Mas nós podemos ajudar esse professor a olhar para esses dados e entender o que ele pode fazer com isso. Qual é o próximo passo que ele vai dar para atender às necessidades dos alunos que precisam de uma interação mais profunda, seja uma interação socioemocional ou uma ajuda com dificuldades no conteúdo ou relacionamento? Ele precisa aprender a lidar com isso, porque ele foi formado em um modelo de aula de um para muitos.
A inteligência artificial está em alta e todo mundo está falando sobre como a escola pode usar a ChatGPT, entre outras tecnologias. No entanto, a escola é muito mais do que a inteligência artificial. Ela é uma tecnologia em destaque no momento, mas não podemos esquecer que enfrentamos um déficit de aprendizagem devido à pandemia e ao excesso de telas. Então, como podemos transformar a escola usando o melhor da inteligência artificial para torná-la cada vez mais humana, para que o professor possa gerenciar uma sala de aula que é híbrida de várias maneiras, não apenas devido aos recursos tecnológicos e analógicos disponíveis, mas também devido à diversidade dos alunos e às necessidades específicas deles.
O professor precisa diversificar suas estratégias, metodologias e recursos para resolver problemas e manter os alunos engajados, evitando que a aula seja apenas expositiva e garantindo que os alunos se sintam desafiados, motivados e envolvidos. Assim, ele não estará no dispositivo, estará conectado em outro lugar. O professor, sem perceber, perdeu aquele aluno naquele momento, e isso poderia fazer a diferença.”
Bruno Alvarez (Pentágono): “Se me permitirem complementar esse ponto muito bem formulado pela Verônica, há uma questão importante de cidadania aqui. Em função da tecnologia, muitas vezes paramos para pensar na chamada Cidadania Digital. Acredito que em breve, a Cidadania Digital deixará de ser algo à parte para ser simplesmente cidadania, uma vez que o digital está cada vez mais incorporado à vida cotidiana.
Recentemente, testemunhamos como a tecnologia interfere diretamente nos processos sociais, com as fakes news sendo um exemplo claro. A tecnologia facilitou a disseminação de notícias falsas, inclusive de baixa qualidade. Uma preocupação que devemos ter é o que a inteligência artificial é capaz de fazer com as fakes news. Lembrando que as fakes news geradas por meio da Inteligência Artificial são muito bem-produzidas.
Li há pouco newsletter de tecnologia em que o autor propôs que os leitores identificassem imagens produzidas por Inteligência Artificial. Ele publicou cinco imagens. Os leitores deveriam identificar qual delas era a única feita por Inteligência Artificial. Apenas 22% das pessoas acertaram, incluindo eu, que errei. Isso ressalta a importância do senso crítico.
Estou falando sobre a necessidade de dar aos nossos alunos uma formação que lhes forneça senso crítico para observar a realidade sem serem enganados por ela. Essa é uma questão crucial a ser discutida neste momento. A linha de argumentação que vocês estão defendendo é bastante coerente: a inteligência artificial e suas ferramentas não podem ser analisadas isoladamente dentro da escola. Elas devem ser integradas ao projeto educacional da escola.
No entanto, tenho outra preocupação. Está sendo amplamente divulgada na mídia a possibilidade de um “apagão de professores” em 2030. Alguns já dizem que não haverá mais professores nas escolas, e algumas instituições têm dificuldades em contratar professores. Quanto à formação dos professores pelas universidades, tenho a impressão de que muitas vezes é inadequada.”
Desafios para a Formação de Professores
Verônica Cannatá (Dante Alighieri): “No Dante Alighieri, ao selecionarmos um educador, presumimos que este detenha uma fundamentação profunda acerca do ecossistema escolar. Nossa instituição é renomada por sua ênfase na integração tecnológica, opulência de recursos e um marcante compromisso com a legalidade, exemplificado pelas menções ao ChatGPT, à Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) e à cidadania digital. Assim sendo, iniciamos um processo introdutório para que o docente assimile o contexto e as inter-relações da instituição. Contudo, esta etapa introdutória não é plenamente satisfatória, visto que a evolução tecnológica é célere. O aprimoramento contínuo é imperativo, tanto para educadores recém-incorporados quanto para os veteranos. Diante da constante inovação, novas pautas relacionadas à tecnologia emergem, tal como a autenticação bifatorial, que demanda elucidativa capacitação.
A velocidade com que as mudanças tecnológicas se manifestam requer que os docentes permaneçam em incessante renovação e empreguem a tecnologia com discernimento. Por exemplo, ao se deparar com uma ferramenta digital promissora, a primeira diligência é examinar os termos de uso, assegurando sua aderência à LGPD. A complexidade tecnológica é inegável, e é nosso papel amparar os docentes neste trajeto.
Quanto à previsão de escassez profissional no magistério, é uma problemática que merece nossa vigilância. Raramente um aluno manifesta desejo de seguir a carreira docente.”
Emerson Bento Pereira (Bandeirantes): “A perspectiva da escassez de docentes não é nova e tem se intensificado progressivamente. No Colégio Bandeirantes, este desafio é reconhecido há tempos. Ao identificarmos um aluno que demonstra interesse em se tornar professor, nós o incentivamos a trabalhar como auxiliar pedagógico.
No que tange à tecnologia, a capacitação contínua é semelhante às práticas de outros segmentos, transcendendo o âmbito estritamente educacional. A carência de profissionais para preencher e ampliar o corpo docente é um desafio que percebemos há muito tempo. Estamos sempre atentos para identificar e atrair talentos emergentes para nossa instituição, muitos deles ex-alunos, que já trazem a cultura da Escola.
No Bandeirantes, consolidamos uma dinâmica que motiva os educadores à imersão tecnológica. Recordo-me com satisfação do evento em março sobre o ChatGPT, no qual os educadores foram convocados e já apresentaram propostas práticas de aplicabilidade da ferramenta. No âmbito da tecnologia educacional, dispomos de uma equipe dedicada ao auxílio diário aos educadores, propondo novas abordagens pedagógicas e instigando a inovação.
Ainda em 2019, fomos pioneiros na implementação de uma inovação tecnológica, a Apple Pencil. Ao observar o entusiasmo dos alunos e a heterogeneidade na aceitação dos docentes, optamos por uma estratégia experimental que culminou na difusão e consolidação desta ferramenta.
Surgiu a ideia de adquirir 20 canetas e disponibilizá-las para 20 professores que eram usuários ávidos de tecnologia. Permitimos que eles experimentassem o uso das canetas na sala dos professores para avaliar o impacto. Rapidamente, em menos de três meses, a maioria dos professores estava solicitando a caneta, e a discussão sobre se os alunos poderiam ou não usá-la desapareceu. As pessoas passaram a compreender a utilidade da tecnologia e como ela poderia ser benéfica no dia a dia da escola.”
Novas tecnologias e eventuais conflitos com a escola
Emerson Bento Pereira (Bandeirantes): “Como líder educacional, buscamos e valorizamos o conflito, pois é nesse processo que ocorre o crescimento. É por meio desse conflito que surgem novas ideias e oportunidades, permitindo a inovação e a criação. No Bandeirantes, temos a clareza de que os alunos irão se apropriar da tecnologia, e faz parte do papel da escola ensiná-los a usá-la.
Ao proibir o uso da tecnologia, criamos uma barreira entre a escola e a realidade diária dos jovens, como se estivéssemos dizendo que não é um problema da escola, deixando a responsabilidade para a família e a sociedade. No Bandeirantes, entendemos que essa não é a abordagem adequada. Mesmo diante dos desafios relacionados ao uso de tablets e celulares, temos convivido com essas tecnologias, buscando aprender a utilizá-las de forma eficaz dentro das salas de aula, sem proibições, mas com uma abordagem educativa.
Houve um momento de frustração que vivenciei cerca de oito anos atrás. Estava falando com os professores, mas percebi que a maioria deles estava focada em seus tablets ou iPads, e ninguém estava realmente ouvindo o que eu estava dizendo. Isso representou uma perda de tempo tanto para mim quanto para eles. Percebi que precisávamos mudar nossa abordagem e reconsiderar como estávamos lidando com as tecnologias. Desde então, estamos trabalhando para adaptar e melhorar nossa relação com essas tecnologias no ambiente escolar.
Começamos a ensinar as pessoas a adotar uma “abordagem de um para um”, em vez de “um para muitos”. Não adianta falar sobre mudanças sem realmente alterar nossas práticas. Começamos a tentar uma abordagem mais prática, como mencionei anteriormente, com o uso de canetas e aplicativos. Ensinar os professores a usar alguns aplicativos e incentivá-los a compartilhar seus conhecimentos com os colegas foi uma estratégia eficaz para promover o aprendizado.
Recentemente, tivemos uma discussão importante sobre a tecnologia na escola. Os professores não querem que a tecnologia dite regras ou interfira em sua abordagem de ensino. Eles veem a aula como uma obra de arte e desejam suporte, novas ideias e ajuda, mas a construção da aula e do caminho da aprendizagem deve permanecer em suas mãos. A tecnologia deve ser vista como uma aliada, oferecendo suporte sem impor limitações.”
Verônica Cannatá (Dante Alighieri): “Aqui no Dante, os alunos estão muito alinhados com o que Emerson mencionou. Em 2012, os alunos começaram a trazer seus próprios dispositivos para a escola, o que chamou a atenção da instituição. Naquele ano, montamos um grupo focal para explorar essa mudança e começamos a trazer os dispositivos móveis, que eram tablets na época.
A professora Valdenice Minatel, que na época era coordenadora de tecnologia e atualmente é a nossa diretora geral educacional, percebeu que essa transformação no uso da tecnologia na escola envolvia os alunos. Ela criou um Comitê Gestor de Tecnologia, que se reuniu para discutir como implementar o programa de um para um na escola. Essa prática tem sido muito bem-sucedida, e os alunos desempenham um papel fundamental no processo.
Hoje, continuamos com esse comitê, que originalmente surgiu no ensino médio, mas agora envolve alunos de todas as séries, desde o sexto ano até a terceira série do ensino médio. Eles participam ativamente das discussões sobre o uso da tecnologia na escola. Quando empresas nos procuram para apresentar soluções tecnológicas, eu as encaminho para o Comitê, pois acreditamos que os alunos desempenham um papel crucial na avaliação dessas soluções.
Além disso, estamos trabalhando na escola com um comitê dedicado ao estudo de Inteligência Artificial e inovação. Os alunos do comitê de Centro de Tecnologia também estão contribuindo para a elaboração do nosso protocolo de uso de IA na escola. O movimento que o Emerson mencionou é iniciado pelos alunos. Foi o interesse e a iniciativa dos alunos que levaram à introdução dos dispositivos móveis na escola.
Antes mesmo de os professores solicitarem, os alunos já estavam trazendo seus dispositivos para criar cadernos digitais. Identificamos uma janela de oportunidade muito interessante e, atualmente, os dispositivos móveis são usados desde o sexto ano até a terceira série do ensino médio em um modelo de um para um. Para o ensino fundamental um, também trabalhamos com a integração de tecnologia, e tudo isso começou com a iniciativa dos alunos.”
Bruno Alvarez (Pentágono): “Concordo plenamente com a perspectiva do Emerson, Verônica e o que Carbonari mencionou anteriormente. Sempre que uma escola opta por proibir ou restringir o uso de determinadas tecnologias, incluindo a Inteligência Artificial, estamos perdendo uma oportunidade valiosa de formação. Eu me questiono quem mais vai assumir a responsabilidade de educar os alunos em relação à tecnologia, senão nós, educadores.
A tecnologia, o digital, está cada vez mais intrinsecamente ligado à nossa vida e cidadania. Se não introduzirmos perspectivas sólidas sobre o assunto aos alunos, deixaremos de prepará-los para o futuro. Acredito que isso se aplique não apenas aos alunos, mas também aos professores. Como mencionou Carbonari, a formação de professores no Brasil é um desafio. Escolas como o Pentágono, Bandeirantes e o Dante certamente atraem bons professores, mas, de forma geral, a formação prática dos professores pode ser deficitária.
Mesmo que teoricamente os professores tenham uma boa base em universidades de qualidade, a formação prática ainda pode ser carente. Nem todos os professores chegam às escolas com um preparo prático abrangente. Portanto, é fundamental que as escolas desempenhem um papel ativo na formação de professores e alunos no que diz respeito à tecnologia.
Nós, em escolas como o Bandeirantes, o Dante e o Pentágono, temos a responsabilidade e a oportunidade de oferecer uma formação rigorosa, principalmente no que diz respeito à prática. No nosso campo, a tecnologia desempenha um papel fundamental, e é aqui que temos um centro de formação. Além disso, oferecemos cursos especializados, muitos dos quais são voltados especificamente para a prática e a tecnologia. Alguns deles se concentram no uso do ChatGPT, por exemplo, na aplicação da Inteligência Artificial em sala de aula.”
Disseminar conhecimento sobre Inteligência Artificial
Verônica Cannatá (Dante Alighieri): “Uma alternativa é oferecer mais momentos como esse, em que instituições possam dialogar, compartilhar suas práticas e dificuldades – afinal, só não erra quem não faz. Quanto maior o colégio, maior é a complexidade, e o desafio também é maior. Tenho certeza de que outros colégios têm muitas coisas para compartilhar. O Dante é uma instituição de portas abertas. Deixo aqui o meu contato para que possamos continuar trocando informações.
Criamos um espaço digital no Google Chat, em que tudo o que é considerado relevante sobre esses assuntos é compartilhado. A rotatividade de informações, comunicação e dúvidas é muito grande, e isso tem sido muito produtivo.
Concordo com o que Emerson mencionou sobre não realizar mais aquelas formações massivas e optar por começar com multiplicadores. Essa é uma abordagem que também adotamos aqui, pois queremos que os professores desenvolvam práticas diferenciadas. Optamos pela formação em serviço, onde os professores se reúnem semanalmente por departamento para abordar questões de tecnologia, metodologia e outros tópicos relevantes.
Acreditamos que colocar o professor no papel do aluno, fazê-lo perceber a rapidez do tempo, engajar-se, encontrar o foco e aplicar novas estratégias em sala de aula são essenciais. Recomendo aos professores que busquem informações, pois há muitos materiais publicados e comunidades disponíveis. Formar uma rede de apoio e troca, como a que estabelecemos aqui, é fundamental. Aprendi muito ouvindo Bruno e Emerson hoje, esse diálogo entre nós é muito importante.
Bruno Alvares (Pentágono): “Uma iniciativa como essa é muito interessante para disseminar e divulgar o que aprendemos e, assim, continuar aprendendo. Na verdade, o Emerson e o Verônica não são os únicos que nos ensinam. Tivemos outras oportunidades de conversar, e essas interações também me proporcionaram um aprendizado significativo.
Dentro das escolas, acredito que podemos, sim, abrir esses espaços. Falei sobre nossa newsletter, que é algo mais interno, mas também mencionei o nosso Centro de Desenvolvimento. Este centro está aberto inclusive para professores de outras escolas, e no caso de professores de escolas públicas, os cursos são gratuitos. Como a Verônica mencionou, estamos dispostos a abrir nossas portas não apenas para visitas, mas também para oferecer formação direta. Portanto, estendo o convite a todos que desejam participar e fazer algum dos nossos cursos e para quem quiser visitar o Pentágono para conversar. Participar disso aqui foi muito enriquecedor.”
Emerson Bento Pereira (Bandeirantes): “Há uma questão muito importante, principalmente para aqueles que são formadores de opinião: emitir opiniões embasadas e ter muito cuidado com os destaques em jornais. Passamos por uma situação relacionada à tecnologia em que a imprensa lidou de forma inadequada com o relatório da Unesco, o que foi prejudicial para quem trabalha com tecnologia. Provavelmente, quem escreveu e começou a repercutir o relatório não o leu por completo. A ideia que se propagou foi a de que a tecnologia, principalmente os smartphones, deveria estar fora da escola, o que foi uma concepção equivocada. Quando se lê o relatório, percebe-se que a ideia principal é que a tecnologia deve ser usada de forma equilibrada, sem excluí-la da sala de aula, mas também sem transformar tudo em tecnologia.
Acredito que um título mais apropriado para a matéria seria “Como utilizar os smartphones de forma equilibrada na escola”. Acredito que a tecnologia não atrapalha, mas sim ajuda quando a escola se apropria dela e a utiliza de forma produtiva no dia a dia.
Há dez anos, quando começamos esse projeto de transformação digital, tínhamos esperanças de que a transformação digital chegasse às escolas públicas, ampliando o acesso à informação e proporcionando oportunidades de aprendizado com novas mídias.
No entanto, as escolas públicas não se prepararam com infraestrutura para isso, e a discussão sobre o uso de smartphones é um subterfúgio. Os smartphones atrapalham, mas também podem ser uma ferramenta valiosa se ensinarmos as crianças a usá-los de maneira consciente.
Falando em Inteligência Artificial, é essencial conscientizar as crianças sobre o uso responsável, especialmente no contexto de aplicativos como o TikTok, que utiliza algoritmos avançados para identificar os desejos do usuário naquela hora. A escola precisa se adaptar e aproveitar a tecnologia para aprimorar a educação.
Máquinas não devem ficar fora da escola, mas devem ser incorporadas de forma eficiente. No Bandeirantes, a transformação digital já está em pleno andamento, com uma troca significativa de informações por meio do ChatGPT. A inteligência artificial já faz parte do cotidiano escolar e está transformando a educação.
A inteligência artificial está se infiltrando de maneira sutil, sem a necessidade de adquirir novo hardware. Softwares com IA já estão sendo utilizados em smartphones, embora muitas pessoas não percebam isso. Essa é uma tecnologia essencialmente baseada em software, permitindo que os usuários aproveitem as ferramentas existentes sem a necessidade de comprar hardware adicional. A tecnologia está presente em nossas vidas, e é fundamental conscientizar as pessoas sobre essa transformação.”