Tornar-se Professora

por Escola da Vila

Quanto tempo levamos para nos chamarem de professora? Os quatro anos iniciais que passamos na faculdade de Pedagogia darão início a uma longuíssima jornada de formação que nunca vai terminar se formos “fisgadas” pelo desejo de fascinar crianças, jovens e adultos pelo conhecimento.

Quanto tempo uma pessoa leva para ser chamada de tia? Talvez nunca, ou assim que seus irmãos resolverem ter descendentes. Para tanto, não é necessário nenhum tipo de formação acadêmica ou especialização. Para ser tia, apenas o parentesco é suficiente. Alguns receberão o título mesmo sem laços consanguíneos, por carinho.

As relações estabelecidas entre “tias, tios, sobrinhas e sobrinhos” não carregam em si a obrigação e a responsabilidade da formação específica para ensinar com a devida competência que se constrói com muito estudo, dedicação e afinco.

Tia se é por “natureza” da palavra.

Professora se “faz” com imensos desafios, dentro e fora da sala de aula, especialmente num país, como o Brasil, onde a docência é entendida por tantos apenas como entrega amorosa e vocação.

Médicas, dentistas, engenheiras, motoristas, cozinheiras, secretárias… Todos e todas são chamados e chamadas por seus nomes, alguns “são doutores” sem o ser, mesmo assim, nunca vi uma advogada, ou uma professora universitária, ser chamada de tia. Colocam-se, profissionalmente, cada um com seus papéis bem definidos. Mas não há dúvidas de que a confusão ainda paira dentro e fora das escolas de Educação Infantil ou nos anos iniciais do Ensino Fundamental, nas instituições públicas ou privadas.

Ninguém chama a professora de tia levando em conta as questões acima, talvez a maioria das pessoas acredite que gostamos! Acham que o termo é carinhoso, que torna crianças e adultos mais próximos de uma relação familiar. Talvez vários e várias colegas não se incomodem, nem tenham parado para pensar na relevância do assunto. Não temos unanimidade neste quesito, de todo modo, insisto para que pensemos em algumas das qualificações desejáveis para uma professora:

  • Conhecimento detalhado e aprofundado sobre as diferentes faixas etárias;
  • capacidade para planejar propostas correlacionadas, com alto nível de relevância para a vida das crianças;
  • alto nível de pensamento crítico para solucionar problemas, apoiar a resolução de conflitos e tomar decisões autônomas;
  • excelente comunicação;
  • compromisso com a diversidade e os valores democráticos;
  • disponibilidade para passar a vida toda estudando para ensinar e aprender, refletir, confrontando a própria prática e a própria experiência profissional.

Recupero um parágrafo do livro PROFESSORA SIM, TIA NÃO, de Paulo Freire, que permanece grifado, desde quando aquela jovem professora tomou uma de suas primeiras decisões profissionais:

Ensinar é profissão que envolve certa tarefa, certa militância, certa especificidade no seu cumprimento enquanto ser tia é viver uma relação de parentesco. Ser professora implica assumir uma profissão enquanto não se é tia por profissão. Se pode ser tio ou tia geograficamente ou afetivamente distante dos sobrinhos mas não se pode ser autenticamente professora, mesmo num trabalho a longa distância, “longe” dos alunos… Exigente de seriedade, de preparo científico, de preparo físico, emocional, afetivo. É uma tarefa que requer de quem com ela se compromete um gosto especial de querer bem não só aos outros, mas ao próprio processo que ela implica. É impossível ensinar sem essa coragem de querer bem, sem a valentia dos que insistem mil vezes antes de uma desistência.

E vamos juntos, professoras e professores, engajados com a formação das novas gerações.

 

 

(Imagem: PeopleImages/iStock.com.br)

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