Vera Cruz: desenvolvimento pedagógico e atenção ao estado emocional dos alunos durante quarentena

A presença é insubstituível. A vivência entre alunos, professores e toda a comunidade escolar, a troca de experiências, a escuta atenta, a aprendizagem mútua. Estes são alguns dos pilares da Escola Vera Cruz, associada à Abepar. Foi impactante, por isso, quando o Vera – como é conhecido pela sua comunidade – precisou suspender as aulas presenciais nas quatro unidades localizadas na zona Oeste de São Paulo desde que os primeiros casos de Covid-19 chegaram ao país. Para preservar a saúde e o bem estar de toda a comunidade, o contato passou a ser remoto.

A mudança na rotina foi um desafio, como tem sido para as demais escolas associadas à Abepar. Nesse novo momento, uma grande aliada foi a ferramenta Microsoft Office 365, que já era utilizada na escola. A equipe pedagógica passou rapidamente a utilizar os diversos recursos da ferramenta com o apoio das coordenações e das equipes de Tecnologia Educacional e de Tecnologia da Informação. 

“É preciso enfatizar que o Vera não está fazendo Educação a Distância”, explica a assessora de Educação Tecnológica, Ana Paula Gaspar Gonçalves. “A EaD é um campo da ciência da educação bem consolidado, mas seus critérios de avaliação são muito próprios e, por isso, não é indicado para a educação básica. Em vez disso, estamos proporcionando o que chamamos de experiências remotas de aprendizagem”. 

“Desenhamos experiências que promovam o equilíbrio entre os fatores humanos envolvidos, os alunos, famílias e a equipe pedagógica, e o conteúdo desenvolvido com o uso da melhor tecnologia disponível para a prática pedagógica”, completa Ana Paula. 

Na Educação Infantil, por exemplo, a primeira ação foi preparar os alunos e as famílias para os próximos dias em casa, conta a coordenadora da Educação Infantil, Fabiana Meirelles. “A equipe montou para cada família ‘sacolinhas’ com fotos, brinquedos, livros, instrumentos musicais e outros objetos que pudessem lembrar a escola, algo importante principalmente para os alunos menores, de 1 a 2 anos”, explicou.

A iniciativa seguinte foi preparar os Pingos, atividades que são enviadas por e-mail às famílias. “São convites de atividades a serem feitas em casa e que tenham relação com a proposta pedagógica do Vera para as crianças, como receitas de bolo que os alunos comiam na escola, indicação de filmes, brincadeiras, histórias para serem contadas”, completa a orientadora da Educação Infantil, Silvia Macul Lopez. “Todas as indicações passam pela curadoria da equipe. As propostas acompanham um texto contextualizando aquela atividade com o que é feito na escola. Desse modo, as famílias podem compreender a intenção pedagógica da atividade”. 

Os professores têm mantido contato com os alunos maiores, de 4 e 5 anos, propondo atividades que buscam relacionar o momento em que as crianças vivem em casa com o que realizavam na escola. 

A organização da mesa na hora do lanche é um exemplo. “Em casa, elas devem vivenciar a arrumação da mesa, o número de copos e de toalhas para cada membro da família e a estética envolvida. A intenção é estimular a percepção de como é gostoso comer junto com a família assim como era com os colegas na escola”, explica a coordenadora Fabiana Meirelles.

As atividades também são construídas com as famílias, que retornam aos professores com relatos sobre como se deu a execução da atividade. “Os professores de cada turma analisam os relatos, compartilham as experiências com o grupo de famílias e de alunos e propõem novos convites, todas as semanas”, completa Silvia Macul.

No Ensino Fundamental 1, as atividades semanais são compartilhadas pelos professores com os alunos no ambiente digital. “Vídeos também fazem parte da comunicação entre professores e alunos, assim como os encontros online, que acontecem com o grupo todo e, em outras vezes com parte do grupo e individualmente”, explica a professora Paula Takada, do 5º ano do EF.

No Ensino Médio, as videoconferências se fazem ainda mais presentes na rotina dos estudantes. Logo no início da quarentena, foi definida uma grade horária para os encontros ao vivo com os professores. Os professores gravam, ainda, vídeos para compartilhar com os alunos e procuram novas ferramentas de apoio para determinados objetivos a partir do diálogo com os jovens.

O novo coronavírus também tem sido objeto de estudo no Ensino Médio. De acordo com o professor de Química, Luiz Puglisi, o tema é discutido amplamente e de forma multidisciplinar. “Explicamos, por exemplo, as características do álcool isopropílico utilizado na limpeza de eletrônicos e do álcool em gel para mãos, discutimos se vírus é um ser vivo ou não, falamos sobre o que é uma pandemia e buscamos na história e na literatura outras pandemias e os impactos desses acontecimentos naquele contexto”. 

Além do estudo didático do tema, a troca humana é outro fator importante no EM. “Também há o cuidado de trabalhar com os alunos e alunas a questão emocional. Separamos um tempo de cada aula para trocar com os alunos essa experiência, para saber como eles estão enfrentando isso”, conta Puglisi.

Aprendizados que ficam

O momento tem sido de aprendizado para a comunidade escolar. Segundo Ana Paula Gaspar, a principal oportunidade é a de refletir como educadores podem aproveitar as ferramentas tecnológicas na educação escolar. 

“Outra oportunidade de aprendizado é pensar como as ferramentas podem agilizar o processo de aprimoramento profissional e também o desenvolvimento das competências digitais dos estudantes, das famílias e dos próprios rofessores”, diz a assessora.

Um aspecto, no entanto, não mudou para os educadores do Vera Cruz: a certeza de que a educação presencial é absolutamente indispensável. 

Não é só a ideia de que a escola acontece em um espaço físico com uma configuração própria, comenta o professor Luis Puglisi. Há outros elementos importantes no processo pedagógico que contribuem para o desenvolvimento integral do aluno no ambiente escolar. É a troca humana, a possibilidade de poder conversar com os alunos e alunas, observar as reações, acompanhar o desenvolvimento, compartilhar vivências. “Tudo isso fica agora ainda mais forte para todos nós”. 

 

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