por Escola da Vila
Segundo a Rede WWF – World Wide Fund for Nature (Fundo Mundial para a Natureza), o desenvolvimento sustentável é capaz de suprir as necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade de atender as necessidades das futuras gerações. É o desenvolvimento que não esgota os recursos para o futuro.
Educar crianças para um mundo mais sustentável me leva a pensar num percurso de ações diárias que contemplem o amor à natureza, de forma prática e não só através de palavras presentes num discurso distante e sem sentido. Adultos vinculados afetivamente ao assunto podem construir ações frequentes, através de cuidados rotineiros que levam as crianças a realizar pequenas ações, com grandes resultados. As experiências estão relacionadas com vivências das quais as crianças participam de forma ativa e que as marcam, pois envolvem um processo de construção da valorização e da tomada de consciência da própria ação em relação ao ambiente onde todos convivem.
As crianças estão conhecendo o mundo, e faz parte dessa descoberta o conhecimento da natureza e da variedade dos seus elementos. Um contato criativo, significativo e respeitoso com a natureza desde o início da vida promove a construção de valores importantíssimos para a relação com o ambiente durante toda a vida. Brincar na natureza é uma ação que promove saúde física e o desenvolvimento de hábitos, valores e afetos em relação ao meio ambiente. Nesse momento em que tanto se discute a preservação de nosso planeta, nosso papel como educadoras é criar condições para que, desde bem pequenas, nossas crianças possam conhecer e valorizar a natureza – aprendizados tão essenciais à vida humana.
Elis é professora do Grupo Bromélia, uma turma de crianças de 5 e 6 anos da Educação Infantil da Escola da Vila. Ela nos conta sobre sua relação pessoal com a natureza e como tem construído rituais de cuidados e zelo dentro da escola:
“Mesmo tendo crescido na cidade, minhas memórias de criança mais frutíferas são aquelas em que estou em meio à natureza, observando as pedras da trilha da cachoeira ou sentindo o cheiro da manga recém-colhida do alto da mangueira.
Quando comecei a trabalhar com e estar próxima das crianças da educação infantil, pude perceber que elas me ajudavam a ter olhos mais atentos às minúcias do cotidiano e ao encantamento presente nos fenômenos naturais:
Elis, olha a boca dessa flor, ela parece estar mandando um beijo’, ‘Vem ver essa família de grãos de areia que cabem no meio dos meus dedos dos pés’, ‘Olha, por essa poça de água no chão, eu consigo tocar na nuvem e sentir como ela é molhada. Falas como estas permeiam o dia a dia de professoras, professores e de qualquer um que se propõe a escutar atentamente as crianças, e sempre me ajudaram a perceber e voltar a me encantar com os ciclos e detalhes da natureza.
Mas isto só é possível de ser percebido e considerado se tratarmos esse assunto como um valor, um pilar muito importante de nosso trabalho e nos dedicarmos a estabelecer esse laço de intimidade de cada menina e menino e de nós mesmas com o nosso entorno.
Durante os últimos anos venho pesquisando sobre o brincar, como gerar menos impacto no mundo e como oferecer oportunidades para que as crianças continuem se encantando pela natureza; e me deparei com a seguinte frase O que vem do mundo repercute no ser e o que vem do ser ressoa no mundo, de Gandhy Piorski, no livro Brinquedos de chão: a natureza, o imaginário e o brincar. Ela me ajudou a olhar para o meu processo e perceber como eu vivia a natureza na minha vida, levando meu percurso para elas. Analisando minhas escolhas, certamente um dos processos mais transformadores foi quando passei a “compostar” o resíduo orgânico na minha casa e aproveitá-lo no jardim. E quando voltamos a frequentar a escola, reativei a composteira que já estava ali há bastante tempo.
Fazer isto na escola, com as crianças, torna todo o processo ainda mais curioso e instigante. Poder perceber que as minhocas vão se alimentar da mesma coisa que nós, olhar para as nossas sobras, destiná-las a algo, mensurar o tanto de miolos de maçãs que sobram após um pequeno lanche, pensar o que podemos e não podemos compartilhar com as minhocas. São tantas questões e descobertas e, ainda, dentro de um grupo, elas se multiplicam e se misturam, tornando os processos compartilhados. Elas percebem semelhanças, diferenças, intrigam-se e instigam-se a conhecer cada vez mais. E por ser parte de um processo cotidiano é cíclico, sempre vamos comer, vai sobrar, vai se transformar, vamos destinar, compartilhar, informar, renovar.
Agora, já aproveitamos a terra oriunda da composteira no jardim da escola muitas vezes, mas nem perto de atender a tantas plantas; já enchemos vasos para acolher plantinhas que começamos a juntar na escola; criamos um “berçário de plantas”, onde algumas receberam nomes inventados, outras foram temas de pesquisa, como é o caso das bromélias, que inclusive deram o nome ao nosso grupo; juntamos garrafas para distribuir o biofertilizante líquido para as famílias e funcionários da escola; ativamos mais duas composteiras; compartilhamos minhocas, plantas floresceram, nós florescemos e seguiremos assim! Vida traz vida, assim como o conhecimento, que sempre puxa uma nova questão para ser respondida.
Sigamos podendo ter mais ações de transformação, acolhida para as plantas, minhocas, terra e para nós mesmos.”
Por Andrea Polo e Elis Sanches Coelho, coordenadora e professora da Educação Infantil, respectivamente.
(Imagem: lovelyday12/iStock.com.br)