#abeparnamídia | Ataques em escolas: como falar com seu filho sobre o assunto para ajudá-lo se sentir seguro

por Pais&Filhos

Nos últimos dias um clima de insegurança e tensão se instaurou ao redor de um tema que deveria remeter exatamente o oposto disso. As escolas, conhecidas e respeitadas por serem locais de aprendizado e acolhimento, foram expostas à ataques e ameaças feitos em algumas instituições do Brasil, que acabou abalando e deixando muitos pais e alunos sem saber como lidar com o assunto.

Apesar de ser um cenário novo para as escolas e autoridades governamentais, é muito importante, em um momento delicado como esse, manter a calma e não deixar o pânico tomar conta da sua família. E isso está diretamente ligado à maneira com que pais e responsáveis de alunos encaram a situação.

Roberta Bento, especialista em educação e neurociência cognitiva, fundadora do SOS Educação e mãe de Taís, afirma que é preciso aceitar a realidade dolorosa de que não temos o poder de fazer com que o medo desapareça de um dia para o outro, mas enfatiza a importância de falar sobre o tema com as crianças e adolescentes, já que não há como impedir que essas informações cheguem até elas.

Como falar com meu filho sobre os ataques em escolas?

Antes de qualquer conversa é importante que os pais também acolham seus próprios sentimentos. Sandra Dedeschi, pedagoga, mestre em Psicologia Educacional e autora e assessora pedagógica da Semente Educação, fala sobre a importância de adultos conversarem com parceiros ou pessoas de confiança sobre o que estão sentindo. “Só assim é possível acolher as crianças, sem reforçar ou até mesmo potencializar as emoções desagradáveis que naturalmente estão presentes nesse contexto, como medo, ansiedade e angústia”.

Em casa, Roberta afirma que o primeiro passo é dar abertura para que os filhos coloquem suas dúvidas, falem sobre seus medos e compartilhem aquilo que ouviram lá fora ou através da tecnologia. “Validar o sentimento de medo, ou qualquer outra emoção que a criança expuser é fundamental para que ela possa reencontrar o equilíbrio e sentimento de segurança”.

Depois de ouvir, é o momento de se colocar. “Diga que você está, junto com a escola e os outros pais, cuidando para que todas as crianças possam ficar tranquilas e seguras. Encerrar a conversa com uma fala positiva, do tipo ‘vai ficar tudo bem’ ou lembrando de algum personagem de quem a criança goste e que tenha superado um desafio ajuda a aliviar a pressão que seu filho possa estar enfrentando”, aconselha ela.

A psicoterapeuta especializada em crianças e adolescentes e Mestre em Distúrbios do Desenvolvimento Helen Mavichian alerta que durante a conversa é preciso ser realista e não mentir, mas sempre manejando a forma como é falado, lembrando que crianças muito pequenas não conseguem processar informações complexas. 

“Não devemos sobrecarregar a criança com informações que ela não consiga processar e gerem angústias desnecessárias. O assunto deve ser abordado conforme as dúvidas surgirem, não traga esse assunto às crianças se não surgir a demanda”.

As especialistas indicam que os pais fiquem atentos à qualidade do sono e às mudanças de humor e comportamento do filho. “Caso haja alterações marcantes e repetidas, é hora de buscar ajuda de um profissional especializado na área de saúde mental para que a criança tenha a ajuda necessária para retomar a rotina tanto dentro de casa, como na escola”, diz Roberta. 

Apesar de não ter como controlar as informações que chegam até as crianças, além de uma conversa sincera e acolhedora, o monitoramento dos conteúdos consumidos pelos filhos é de responsabilidade dos pais e pode ajudar a minimizar sentimentos de insegurança. “O primeiro ponto é lembrar que crianças não devem ter acesso a redes sociais. Em especial durante períodos como o que vivemos agora, há inúmeras tentativas de gerar pânico através de fake news e mensagens com ameaças que não fariam sentido algum em um contexto de equilíbrio dos adultos”. 

Devo levar meu filho para a escola?

A resposta entre as entrevistadas foi unânime: sim! “O lugar das crianças é na escola. Pesquisas realizadas nos Estados Unidos mostraram que manter a rotina e uma situação de normalidade na vida das crianças é um dos principais caminhos para que elas não sejam emocionalmente impactadas pelo momento de tensão que toma conta da sociedade”, argumenta a fundadora do SOS Educação.

Helen complementa dizendo que é importante que, nesse momento, os pais se aproximem das escolas para compreender as estratégias que serão implementadas e os demais procedimentos de segurança já existentes. Isso ajuda a tranquilizar os filhos e a si mesmos. 

“A única maneira de não ter toda a família vivenciando situações de pânico é ter os adultos responsáveis buscando ajuda para se manterem equilibrados, apesar do medo e ansiedade”, conta Roberta. Ela também elenca algumas outras estratégias que os pais podem adotar para minimizar a sensação desconfortável do momento:

  • Converse com outras famílias;
  • Exponha as sensações que você tem experimentado;
  • Ouça de outros pais como eles têm conseguido manter a calma;
  • Escolha um único noticiário para se manter informado e evite ao máximo ficar revendo cenas de acontecimentos em escolas que sofreram ataques.

“Precisamos lembrar que temos o poder de manter nosso lar como um ambiente acolhedor, onde dúvidas são respondidas, há abertura para que todos se coloquem, mas os adultos estão no controle, garantindo momentos leves para que o equilíbrio necessário no enfrentamento desse momento possa ser construído”, encoraja ela.

“As escolas são locais seguros”

Assim como em casa, o ambiente escolar também deve abrir espaço para acolhimento dos sentimentos de todos os envolvidos: pais, alunos e professores. “As trocas nesses momentos de diálogo, como as rodas de conversa, ajudam que eles percebem que outros compartilham das mesmas emoções e dúvidas. E é um ótimo momento para incentivá-los sobre a importância de manter a calma, ser mais paciente, diante da situação que é bastante delicada”, explica Sandra. 

De acordo com a Associação Brasileira de Escolas Particulares (Abepar), a orientação é que as instituições de ensino tomem medidas reforçando os laços entre elas e todos que integram a comunidade escolar. “No que se refere às escolas, elas devem revisar os protocolos de segurança, melhorar a segurança externa, mas também é preciso reforçar a segurança dos muros da escola para dentro, ou seja, fazendo a escuta e o acolhimento dos alunos, professores e famílias”, reconhece Maria Eduarda Sawaia, presidente da Abepar e diretora fundadora da Beacon School.

Ela também afirma que não há motivo para fechamento de escolas nesse momento. “A gente não tem informações de ameaças reais que tenham sido comunicadas pelas autoridades da polícia no que se refere às escolas de São Paulo. Todo esse cenário está sendo analisado, mas as escolas não podem ser reféns. Não tenho conhecimento do fechamento das escolas da Abepar e nem recomendamos isso. As escolas são locais seguros”.

A diretora reconhece que é uma situação delicada, mas defende que todos devem se envolver para contornar o problema. “O que não se pode aceitar é qualquer ato de violência escolar, e a violência escolar é um termo muito amplo, inclui comportamento agressivo, bullying, cyberbullying, agressões e também casos extremos e muito raros, como abertura de armas de fogo, tiroteios. Mas qualquer violência precisa ser abordada e tratada com responsabilidade e cuidado de forma multidisciplinar. É um esforço que envolve a sociedade como um todo: lideranças de escolas, professores, alunos, famílias e autoridades de segurança e governo”. 

Em contato com a Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, o órgão informou que atua em parceria com as redes de proteção do Estado e do Município, como CAPS (Centro de Atenção Psicossocial), Conselho Tutelar, Vara da Infância e Juventude e Polícias Civil e Militar para solucionar conflitos no ambiente escolar. Além disso, diante dos casos de ataques e ameaças em outros estados, a Seduc reforçou outras medidas de segurança, como o patrulhamento da Ronda Escolar e instalação de câmeras. 

Veja o posicionamento na íntegra:

A Secretaria da Educação do Estado de São Paulo informa que atua em parceria com as redes de proteção do Estado e do Município, como CAPS (Centro de Atenção Psicossocial), Conselho Tutelar, Vara da Infância e Juventude e Polícias Civil e Militar para solucionar conflitos no ambiente escolar. As escolas contam também com patrulhamento da Ronda Escolar e em casos de ameaças os gestores das unidades registram boletim de ocorrência para que as autoridades competentes possam realizar a investigação. Este registro é fundamental para auxiliar a Polícia nas medidas de monitoramento e investigação, que foram intensificadas nos últimos dias.

A Seduc ressalta que as escolas da rede estadual estão atentas aos comportamentos dos estudantes, atuando com a escuta ativa e mediação, buscando solucionar os conflitos identificados. As unidades são orientadas a instalar câmeras, conforme diretriz do Programa de Melhoria da Convivência e Proteção Escolar – Conviva SP. Os equipamentos são espelhados com o Centro Integrado de Comando e Controle – o CICC da Polícia Militar, com intermédio do Gabinete Integrado de Segurança e Proteção Escolar (Gispec), composto por servidores da Educação e da Polícia Militar, que contribuem para o planejamento das estratégias de segurança em toda a comunidade escolar e fomento da cultura da paz.

É importante salientar que o consenso entre especialistas é que a divulgação de imagens ou informações de um atentado serve para fomentar novos casos, no que é conhecido como “efeito contágio”. Da mesma forma, percebe-se que a divulgação de ameaças (muitas das quais não passam de boatos) tem seguido o mesmo comportamento. Quanto mais se noticia, mais casos surgem. Além do efeito contágio, a divulgação dessas ameaças pode criar uma sensação de pânico generalizado em pais e professores.

O Ministério da Educação informou, por nota, que o Governo Federal instituiu o Grupo de Trabalho Interministerial de combate à violência nas escolas, na semana passada e que uma reunião foi feita na quarta-feira, 12 de abril, para discutir o tema. 

No mesmo dia, o ministro da Educação, Camila Santana, defendeu fortalecer um programa psicossocial para as escolas e descartou investir na militarização de colégios. “Este é um problema que precisamos discutir mais profundamente. Precisamos fortalecer um grande programa psicossocial para as escolas brasileiras”, disse. A ideia do MEC é implementar o apoio dos psicólogos e assistentes sociais com o apoio dos estados e municípios. 

 

Veja a matéria na íntegra aqui.

 

(Imagem: fizkes/iStock.com.br)

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